sábado, 24 de janeiro de 2015

O ENCONTRO

Depois daquele primeiro encontro, cada um seguiu seu caminho. Ela voltara pra casa feliz, porque havia decifrado sua alma. E ele seguira viagem, pensativo e confuso ao mesmo tempo. Ambos estavam acompanhados, mas em plena solidão interior.

O que mais o intrigava, era não saber quase nada sobre aquela mulher desconhecida. O que sabia, era o que sentia por ela e que não sabia explicar em palavras. Apenas sentia... Apesar dos desencontros da vida, eles acreditavam que se entendiam no silêncio, nos sussurros, nos suspiros, nas meias palavras que nunca disseram; entre um olhar e outro. Entre uma música e outra. Entre um filme e outro...entre, entre, entre tantas coisas que não viveram. Apenas desejam...

Ela não sabia o que fazer e nem como fazer para se declarar aquele homem. E também não sabia explicar em palavras o que sentia, pois sempre preferira o silêncio. Talvez em gestos se saísse bem, mas não queria se arriscar. Talvez tentasse se declarar através de histórias, como fizera Sherazade, que depois de mil e uma noites narrando histórias ao rei, finalmente conquistou seu coração. Mas não possuía tamanha criatividade, muito menos tempo, ou talvez, tivesse medo de ousar. Medo de não saber se o hipnotizaria com suas declamações, como a rainha fez com o rei. Talvez tivesse medo de pisar em areia movediça.

Decidiu que seria melhor calar-se pra sempre! Quem sabe na mudez das palavras não ditas, estaria dizendo o indizível. Não sabia, mas era a melhor forma de arriscar-se. O silêncio cala os corações, aquieta os anseios e afugenta o desnecessário. Mas ele lhe era necessário. O que fazer então? Não sabia. E não saber a libertava pra não entender. Não ter as respostas, era sua forma de continuar esperando o dia seguinte. Mas quantos dias seguintes ainda existiriam? O tempo urge...

O que dizer a um homem quase mudo e quase cego? Mil e uma histórias ou o silêncio? Sempre acreditava no silêncio como melhor alternativa. Principalmente, no silêncio que existia em seu quarto.

E o encontro? Nunca teve outro. Se falavam à distância, em raríssimas oportunidades das madrugadas de insônia. Um mal que acometia aos dois. Mas se tivesse, ela queria que fosse num lugar assim: um banco, um lago e uma árvore feita em flores.

Lilian Flores


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