terça-feira, 4 de setembro de 2018

Uma resenha: Mar Adentro - É PRECISO VIVER E VÍRGULAS!

O pano de fundo desse filme é a Eutanásia e ponto. Não! Vírgula, porque o mais importante em um filme, não é a sua temática, mas sim o que é feito dela e como ela é desenhada. OK, eu também sou contra a eutanásia. Eu também sou contra o suicídio. Viva a vida até o seu último instante com muita fé, paz e amor. Que lindo isso! Essa Lindeza de conceito é o lema de vida da grande maioria. O que tem de errado com esse lema? Nada! Absolutamente nada de errado! Por isso, não preciso assistir esse filme, foi a resposta que um dia em minha infantilidade juvenil, me vi respondendo, introspectivamente. Não é porque já sabemos ou achamos que já sabemos como vamos lidar com as adversidades que vierem ao nosso encontro, que daremos um ponto final no aprendizado, que podemos ter através desse filme ou com a vida mesmo, que sempre está nos dando sua lição de casa de cada dia. Use e abuse das vírgulas e das reticências, simplesmente porque elas nos fazem muito bem. Ponto final é para final? Também não é assim, é apenas seu nome. Assim como a temática abordada, é apenas um nome: eutanásia. Mas por trás dessa temática tem muita vida, muita poesia, muito amor, muita paixão, muitas razões de viver... Amém! Mas para quem se tornou paraplégico da noite para o dia, ou do dia para a noite, as razões de se viver, sejam talvez, menos convincentes que as nossas.

O que posso dizer sobre mim, é que vivo a vida intensamente sob o meu ponto de vista, e eu escolheria viver, sempre! Mas mesmo tendo essa certeza, me coloquei no outro lado dessa moeda. E acredito que não querer viver, deva doer mais do que lutar pela vida. E assim, comecei a observar as vidas ao redor e diante dos noticiários e estradas da vida, vimos pessoas que sucumbem viver...e outros, que desistem da vida para estar em outra dimensão, e há outros que são apenas um número, porque desistiram de viver, estando mortos em si mesmos.

A adversidade não pode fazer de nós fantoches em suas mãos, mas sim o contrário. E daí? Qual a receita ou qual o truque para usar o fantoche ao invés de ser usado por ele? Não sei... Só sei que a vida jorra de dentro para fora e não o inverso. Há pessoas que esperam fatos acontecerem legais ou não legais, para dizerem pra si mesmas, eu estou vivendo. E eu me incluo fora dessa....(risos). O que sei, é que independente do que acontece ao nosso redor ou conosco mesmo, isso não pode ser a combustão que nos tire da inércia ou como aconteceu com o personagem principal, o colocou na inércia.

Mar adentro te faz refletir sobre a vida, mas acima de tudo, sobre a morte. E te leva a questionar como julgamos o outro e esquecemos que tal atitude, nos leva ao patamar de sermos deuses também. O filme nos leva pra uma viagem adentro de nós mesmos, na qual somos tão misteriosos e profundos como o mar, onde só saberemos o que realmente faríamos quando mergulhamos no profundo de nossas almas, e lá no esconderijo de nossas mazelas, enxergamos as razões pelas quais vivemos.
Mar adentro é mais que um filme, é uma sessão de terapia, daquelas que duraram quase duas horas, mas que pareceram 15 minutos. Eu recomendo a assisti-lo, não porque já temos uma velha opinião formada sobre tudo, mas porque é importante ser uma metamorfose ambulante. Mudar é preciso!

Mas principalmente, porque temos que estar bem conosco mesmos, para fazermos o bem ao nosso redor ou sermos o bem para o outro e para nós mesmos. Mas quem é capaz de julgar o que é bom ou ruim para nossa vida? O vizinho? O amigo? O padre? Quem? Eu creio que só Deus sabe... Mas como saber o que Deus sabe? Eis a questão! Acredito e não tenho certeza, que quem tenta viver a vida de dentro pra fora e não de fora pra dentro, descobre o que Deus sabe! Viver ultrapassa qualquer entendimento, já dizia Clarice Lispector e tentar entender é uma armadilha.  É preciso viver e vírgulas!