É tempo de flores, de jardins, de tardes ensolaradas... E eu querendo ouvir o piar dos pássaros, sentir o gosto do mar, andar sobre a areia, sobre a grama, sobre o pó da terra úmida...
Mas o silêncio sufoca os desejos agrestes, desmantela os sonhos insanos, amarga a saliva açucarada, adormece os milagres humanos, envenena os pensamentos profanos e inunda a memória traída...
É primavera e é tempo de flores! Mas não se tem mais jardins, nem pântanos, nem campos... Somente vasos solitários, empilhados em janelas empoeiradas de estreitos corredores. E flores campestres querem terrenos baldios; querem a vastidão dos campos; querem o som arpejado dos pássaros; querem a plenitude dos raios de sol, das gotas de chuva, do orvalho das madrugadas insones; querem as cantigas de ninar sonhos amanteigados; querem o diálogo das mãos e dos olhos em noites bem dormidas...
É primavera e não se pode sentir o cheiro das flores. O que exala se mistura com o som do sabiá e o barulho das ondas, em sábados de refrigérios.
É primavera misturada com a frieza do inverno e o desejo ardente de um verão que não chegou ainda, mas que bate à porta, ontem, hoje e sempre.
Lilian Flores
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